sábado, 13 de dezembro de 2008

Os mumuros do Universo.



Projecto liderado por prémio Nobel da Física observa Via Láctea na Pampilhosa da Serra.


A antena com nove metros de diâmetro foi colocada numa zona deserta em que as interferências são quase nulas

Ouvir as origens do Universo. É esse o objectivo do projecto que levou à instalação de uma antena parabólica com nove metros de diâmetro na Serra do Açor, Pampilhosa da Serra, para escutar emissões de rádio e de microondas provenientes da Via Láctea.

A iniciativa é liderada internacionalmente por George Smoot, da Universidade da Califórnia em Berkeley, EUA, prémio Nobel da Física em 2006. O principal objectivo do Projecto GEM (Galactic Emission Mapping - Cartografia da Emissão Galáctica) é disponibilizar dados para um estudo mais detalhado da radiação cósmica de fundo, considerada pelos cientistas um fóssil do 'Big Bang' - teoria segundo a qual o universo surgiu de um estado muito quente e denso, há 13,7 mil milhões de anos. Em particular, os astrofísicos procuram estudar pequeníssimas variações na radiação cósmica de fundo, indicadoras do surgimento de grandes estruturas no universo, como os enxames e superenxames de galáxias.

A instalação deste pequeno observatório de radioastronomia teve em conta medições do espectro radioeléctrico em vários pontos do país. O local escolhido apresenta uma interferência de fontes de rádio quase nula - sem ser afectado por estações de rádio e televisão, rádio amadoras, redes de telemóveis e até pela proximidade de fornos caseiros de microondas ou por motores de motociclos.

Antes de vir para Portugal, o projecto GEM recolheu dados na Antártida, na Califórnia, na Colômbia, em Espanha e no Brasil. Foi então utilizada uma antena de cinco metros de diâmetro.

Em Portugal, o investigador principal, Domingos Barbosa, do Instituto de Telecomunicações de Aveiro, conseguiu o apoio logístico de várias empresas. A Portugal Telecom, por exemplo, cedeu uma antena de telecomunicações desactivada de maiores dimensões, que funcionou na base das Lajes, nos Açores. Conseguiu ainda o apoio da Câmara Municipal de Pampilhosa da Serra, que fez as terraplenagens. As verbas iniciais da Fundação para a Ciência e a Tecnologia mal cobriam as primeiras despesas. "O que fica caro não é o projecto científico em si mas as infra-estruturais. Essa tem sido a nossa luta", diz Domingos Barbosa. A logística funcionará no ambiente bucólico da aldeia de Fajão, uma característica localidade de xisto das Beiras.

Curiosamente, uma das preocupações dos investigadores é que os javalis, que podem encontrar-se na região, não roam os cabos da antena.

A electrónica do receptor e várias partes mecânicas foram desenvolvidas e testadas em Portugal. Os seus responsáveis já capitalizaram a aposta ao serem convidados para o consórcio do maior radiotelescópio do mundo: o SKA (Square Kilometre Array, uma rede com um km2).

Este gigantesco sistema de 4000 pequenas antenas, semelhantes à de Pampilhosa da Serra, deverá ser instalado na África do Sul ou na Austrália, entre 2013 e 2020. As operações deverão ter início em 2015. Os promotores do SKA estão especialmente interessados nos desenvolvimentos e na experiência adquiridos pelo grupo português.

Os dados recolhidos pela antena do GEM Portugal serão também integrados no pacote utilizado pela Agência Espacial Europeia na calibração das observações do satélite Planck.

Com lançamento previsto para o início do próximo ano, a bordo do foguetão Ariane-5, o Planck irá registar a radiação cósmica de fundo com um rigor sem precedentes. O resultado esperado é uma melhor compreensão da origem do universo e do processo de formação das galáxias.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Confirmado: a matéria é resultado de flutuações do vácuo quântico



A teoria de que a matéria não tem fundações tão firmes quanto sugerem termos como "concreto" e "sólido" não é tão nova. Mas esta é a primeira vez que os cientistas conseguiram demonstrar que a matéria se origina de meras flutuações do vácuo quântico.

Modelo Padrão da Física

Uma equipe internacional de físicos demonstrou de forma conclusiva que o Modelo Padrão da física das partículas - a teoria que descreve as interações fundamentais das partículas elementares para formar toda a matéria visível no universo - explica com precisão a massa dos prótons e dos nêutrons.

"Mais de 99% da massa do universo visível é formado por prótons e nêutrons," afirma o estudo, publicado na revista Science. "Esses dois tipos de partículas são muito mais pesados do que os quarks e glúons que as constituem, e o Modelo Padrão da física deve explicar essa diferença."

O que faz com que a matéria seja matéria?


Cada próton e cada nêutron é formado por três quarks. Ocorre que esses três quarks juntos respondem apenas por 1% da massa de todo os prótons ou nêutrons. A explicação conclusiva que faltava era: Então, o que responde pelo restante da massa dessas partículas? Em outras palavras, "O que faz com que a matéria seja matéria?"

O Dr. Andreas S. Kronfeld explica que, como os núcleos atômicos formam quase todo o peso do mundo, e como esses núcleos são compostos de partículas chamadas quarks e glúons, "os físicos acreditam há muito tempo que a massa do núcleo atômico tem sua origem na complicada forma com que os glúons se ligam aos quarks, conforme as leis da cromodinâmica quântica (QCD - Quantum ChromoDynamics)."

Partículas virtuais

Os glúons são uma espécie de "partículas virtuais," que surgem e desaparecem de forma aleatória. O campo formado por essas partículas virtuais seria responsável pela força que une os quarks - a chamada força nuclear forte.

Ocorre que, como o número de interações reais e virtuais entre quarks e glúons é estimada na casa dos trilhões, é incrivelmente difícil, ou até mesmo impossível, usar as equações da QCD (cromodinâmica quântica) para calcular a força nuclear forte.

Os pesquisadores então criaram uma nova técnica, batizada por eles de Rede QCD, na qual o espaço é representando na forma de uma rede discreta de pontos, como os pixels de uma tela de computador. Este modelo permitiu que os cientistas incorporassem toda a física necessária e deu a eles o controle das aproximações numéricas e da taxa de erros nos cálculos da massa dos hádrons - prótons, nêutrons e píons.

A rede QCD reduz toda a complexidade das equações virtualmente insolúveis em um conjunto de integrais, que puderam ser programadas para solução em um programa de computador.

Isto permitiu que, pela primeira vez, os físicos incluíssem em seus cálculos as interações quark-antiquark, uma das maiores complexidades da força nuclear forte. Agora, além dos glúons, eles sabem que a massa dos quarks-antiquarks se origina da flutuação do vácuo quântico.

Diferença entre acreditar e saber

Conforme os pesquisadores, agora é possível eliminar a expressão "os físicos acreditam", substituindo-a por "os físicos sabem", quando o assunto é a QCD.

Segundo o Dr. Kronfeld, os cálculos revelaram que, "mesmo se a massa dos quarks for eliminada, o massa do núcleo não varia muito, um fenômeno algumas vezes chamado de 'massa sem massa'."


Toda a matéria do universo é virtual


A forma como a natureza cria a massa dos quarks é um dos assuntos de maior interesse dos físicos que irão trabalhar no Grande Colisor de Hádrons, o LHC,, que deverá começar a funcionar em 2009.

O LHC vai tentar confirmar experimentalmente a existência do chamado campo de Higgs, que explica a massa dos quarks individuais, dos elétrons e de algumas outras partículas. Ocorre que o campo de Higgs também cria a massa a partir das flutuações do vácuo quântico.

Ou seja, com a atual confirmação de que a massa dos glúons e quarks-antiquarks tem sua origem na flutuação do vácuo quântico, se o LHC confirmar a existência do campo de Higgs, então a conclusão inevitável será de que toda a matéria do universo é virtual, originando-se de meras flutuações de energia.

domingo, 2 de novembro de 2008

A Roda da Vida

Segui passando, até agora. Presenciei algumas situações, que me fizeram, escrever este post aqui no blog.
Uma delas, é o dilema da juventude, quando a maturação hormonal está no ápice da sua glória. A incompreensão, o apego emocional, a dúvida do coração. Uma idade em que, sem os "amigos", não somos nada..." Amigos"...O simples facto de sentar na esplanada de um café, acender um cigarro, e entrar cordialmente e de forma "politicamente" correcta na conversa, reina aqui. Energias entram em choque, a apreciação física também e os ecos do futuro do passado. Pessoas falam sobre tudo, até sobre dejectos orgânicos quando a conversa chega a um nível humorístico de extrema intimidade entre um grupo de 3, ou mais pessoas.

Mas a insatisfação, impera, onde a procura de respostas vive. Facto é ele, da nomenclatura da pergunta perpétua : " Porque é que não.....".

"Não" um sinónimo de negativo e um antónimo de " Sim". Tudo na vida, como no pensamento, não são mais do que meras passagens, facto.

Agora digo, ninguém está satisfeito com aquilo que a vida lhe dá. Porquê? Porque a insatisfação é amiga da ambição de conseguir algo. Não condeno, mas também não admiro, apenas interrogo.

Falemos do flagelo, o Amor. A palavra que para alguns significa " Beijos", outros " Sexo " e para outros " Sofrer ". Qual destes, sairá a ganhar? Sem dúvida, o sofrer... - " Ah mas sofrer custa" -" Ah mas sofrer doi" - " Ah mas sofrer provoca mal estar"...- Eu sei. E se cessarmos esse sofrimento? Querem a formula mágica? Tomem:

- " Hey isso vende-se nas barracas do Santo António" - " Hey que giro, vou fazer uma tatuagem" - " Hey o símbolo da Pépsi" -" Hey chinesada"

- Não....

Isto é o Ying Yang, um símbolo ancestral proveniente da Ásia meridional que representa o Bem e o Mal. Neste símbolo, vamos que os dois frisos repetem-se de maneira simétrica ao eixo, e neles há uma bolinha da cor oposta de cada friso.

-" Hey meu pois é, e depois?"

Na primeira parte da última explicação que citei anteriormente, o Bem = Branco está simétrico ao Mal = Preto. O que podemos tirar dai? O Equilibrio. Não viver de extremos, caminhar usando o Mal como conhecimento, para que o Bem seja fluído como uma acção. Mal = dúvida, interrogação / Bem = Plenitude, Esclarecimento. Porque não unir essas duas partes e traçar uma linha imaginária no eixo das duas cores? È esse o caminho que temos de tentar seguir, para que possamos viver em paz. Imaginem uma árvore, se ela cresce para o lado esquerdo, o tronco vai ceder por acção da gravidade. Se cresce para a direita a situação repete-se, mas, se crescer no meio destas duas extremidades posicionais, a árvore vai crescer, fazer um angulo de 90º com o solo e o efeito da gravidade vai ser nulo sobre o tronco, a excepção do peso, que por natureza é parte integrante da massa da matéria. A árvore crescerá, dará folhinhas e quem sabe fruta para capitalizar ou tirar livremente como o Dante viu nos Campos Elísios do Mister Hades.

Porque é que não seguimos o exemplo do crescimento da árvore e aplicamos na nossa vida? As respostas estão bem a nossa frente, quando nos sentamos a fumar umas "brocas" no parque, completamente de mal com a vida. È tão simples, e boa é, a harmonia que a Natureza nos dá para obtermos estas respostas. Lamentos trará negatividade e negatividade trará mais negatividade. Porque a partir de agora, encararemos tudo o que sofremos, como uma lição?Amanha seremos sempre melhores que hoje.

" - Ah, isso é muito facil de falar, mas fazer........."

Aqui agora, entra a analogia das pintas do simbolo do Ying Yang. Preto no Branco / Branco no Preto...Porque?

" Não existe a consciência de Bem sem a existência do Mal, e a existência do Mal sem a consciência do Bem "

-" Filosofias da treta, dizem eles "

Sim, filosofia é treta, treta é conversa, conversa é trocar caracteres ou fonemas pensados, a priori.

Uma pessoa, nunca vai ser feliz, sem saber o que é ser infeliz e vice-versa.

-" Ai e como são a questões amorosas?" - perguntam as hormonas

Simples, o mesmo caminho do Ying Yang. Se hoje e amanha não encontras, é porque sabes o que é encontrar.

-" Ai mas eu amo (a) e não consigo esquecer"

Ninguém tira o mérito de tal nobre e honrado sentimento, mas o " Não " é o passo para lembrar cada vez mais de quem não quer que se lembre. Generalismo são coisas do Yang, porque não optar pelo antónimo do Ying? Mais facil. A mente vive em raiz com o espírito e em função do tempo ( Abençoado Descartes, ninguém te entende ). Quer queiram quer não, TUDO o que sentimos psicologicamente e fisicamente, está albergado num vasto monte de matéria negra com muitos pontinhos de hidrogénio em reacções de fusão para originar hélio ( não queiram estar a beira quando o H acabar :P ) chamado Universo.
Universo = Tempo = X
Coisas do Universo = Y
Z = é para estar calado como dizia Einstein

Ora bem, tudo depende do Tempo. Até o quebra-cabeças chamado Amor. Tudo tem função inversamente proporcional ao Tempo, Deus se preferirem, O Altissímo, o Supremo. Com os nossos pensamentos e acções, nós fazemos o nosso destino, o Supremo dá-nos a energia, nos dá-mos a energia ao Supremo e assim é. Se tamos de mal com o Supremo, o Mal virá. Se estámos de bem com o Supremo, o Bem virá. Se estamos nem mal nem bem, mas em equilíbrio, a Paz chegará. Facto.

Mas um conselho, que deixo " Nem tudo o que reluz é Ouro" . A prudência salva.





Disclaimer : Este texto é propriedade intelectual e exclusiva de Carlos Cardoso.

sábado, 27 de setembro de 2008

Crítica - Amor

Certamente, hoje encontro-me pachorrento e um pouco audacioso. O titulo desta crónica é auto-explicativo, a minha escrita é directa e fere como o fio de uma faca ao passar na mais fulcral das peles. Cada dia que passa, noto que a necessidade de carinho que os seres humanos requerem, é cada vez maior, mais realçada e mais importante nas suas vidas. A sibilância entre sentimentos hoje é dia é cada vez mais um misto de complexidade de Tempo / Espaço ; Época / Conceito / Tendência. Ser humano lamenta todos os dias, a necessidade de um Amor conjugal fértil, pacato e feliz.

Até esta parte, tudo bem. Falo de mutualismo animal. Necessidade hormonal, sexo, prazer e procriar. Integração dará origem a sociabilidade, a sociabilidade entre indivíduos dará origem a uma sociedade. Uma sociedade dará origem a evolução, evolução dará origem ao que chamamos de progresso, progresso trará novas tendências, tendência é sinónimo de moda.

Agora penso, não estará no gene do ser humano, progredir e perder aquilo que levou milhões de anos a ganhar? Falo da consciência sentimental / amorosa. Século XXI, amor é a aliança entre a tendência e a notoriedade na sociedade de uma pessoa. Amare-mos os heróis, desterremos os bandidos e ignoremos os que têm personalidade própria. Todavia, esta frase é retorquida pelo grupo dos que "amam os heróis" como do tipo " Ah não, isso não é assim ", mas, já havia um ditado, aliás, nunca houve, irá existir agora, proferido por mim, idealizado por mim, criado por mim, para ser mais concreto.

" Não queiras globalizar a ovelha cinzenta, por apenas, pseudo-aparente necessidade "

O que quero dizer com isto? Muito simples, pessoas são falsas com elas mesmo. Não admitem falta de cérebro, invocam até, a posse dele mesmo, quando a consciência não tem tracção nas suas palavras. Falar para ficar bem visto, e fazer o contrário é mau. Viver de aparências, modas aparentais e modas intelectuais para quê? Para chegar a esta conclusão:

" Não há amor sem razão, não há amor sem consciência, não há amor sem a liberdade. Liberdade que consiste em todos diferentes, mas todos iguais na aceitação. O Amor precisa de pouco, mas é aos poucos, que se faz a perfeição".

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Nem tudo o que os olhos vêem é o correspondente à realidade

Quem diz que, quem vê caras, vê corações?


Quem diz, também, que estas rodas estão a mover-se? O que na realidade, não estão.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Universidade de Coimbra desenvolve robô-cirurgião


Investigadores da Universidade de Coimbra estão a criar um robô que, dentro de alguns anos, estará apto a realizar cirurgias minimamente invasivas nos hospitais, com grande inovação relativamente às soluções existentes.

Dentro de um ou dois anos poderá ser utilizado já em situações reais na tele-ecografia, por ser uma aplicação não invasiva, e um ano depois poderá ser testado em cirurgia de cadáveres, antes de humanos vivos, explicou à agência Lusa Rui Cortesão, coordenador do projecto.

Para este docente de electrotécnica na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), este robô em desenvolvimento pesará apenas 27 quilogramas e será "bastante mais barato" do que um similar existente no mercado, o Da Vinci.

Segundo Rui Cortesão, o Da Vinci custa um milhão de euros, tem uma dimensão elevada, ocupando uma sala, e não transmite ao cirurgião a sensação de contacto, a informação de força, ao contrário do sistema em desenvolvimento.

O robô médico, designado de WAM, de acordo com o investigador, será indicado para cirurgia minimamente invasiva, ou seja, para a cirurgia que se realiza através de pequenos orifícios abertos no corpo humano, ou pelos orifícios naturais.

"Melhor conforto para o cirurgião, integração em tempo real dos dados intra-operativos (movimento guiado por imagem e movimento controlado por força), cirurgia menos dolorosa e traumatizante para o paciente e tempo de recuperação mais curto" são algumas das características do invento, refere uma nota do gabinete de imprensa da FCTUC.

O robô, que poderá estar no mercado "dentro de cinco a sete anos", possui "um 'coração' recheado de um software altamente sofisticado composto por inúmeros algoritmos de controlo e diversos sensores, dotando-o de uma inteligência superior e de graus de liberdade extra que estão ao dispor do cirurgião", acrescenta.

De acordo com a mesma nota, o WAM "tem uma precisão intrínseca para garantir a máxima segurança", dispondo de uma "arquitectura de controlo global para garantir tolerância a falhas sensoriais e robustez a erros nos modelos".

Além da utilização na cirurgia, o robô ajuda o cirurgião no treino de destreza para situações reais e poderá ter uma aplicação na tele-ecografia.

"Com o encerramento de maternidades este robô poderá ser uma boa opção. O ginecologista pode estar em Coimbra e examinar ecografias de Bragança, Viseu, Guarda ou Castelo Branco. Para tal bastará a presença de um técnico no hospital", refere a mesma nota da FCTUC.

Iniciada há um ano, embora na sequência de estudos ao longo de cinco, a investigação conta com o financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Envolve sete investigadores da FCTUC e, numa fase avançada de testes, agregará a colaboração dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC).

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Justiça portuguesa é cega,surda,muda...


Artigo do Jornal " Expresso "


A justiça portuguesa não é apenas cega, é surda, muda, coxa e marreca -
Clara Ferreira Alves - Expresso

Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito
maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com
isso apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do
encobrimento, do compadrio e da corrupção. Os portugueses, na sua infinita
e pacata desordem existencial, acham tudo "normal" e encolhem os ombros.

Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto
final, assunto arrumado. Não se fala mais nisso. Vivemos no país mais
inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir
nada.

Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia, que se sabe que, nada
acaba em Portugal, nada é levado às últimas consequências, nada é
definitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado.

Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, foi
crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou ao caso
Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destas histórias, nem o
que verdadeiramente se passou nem quem são os criminosos ou quantos crimes
houve.

Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaços de
enigma, peças do quebra-cabeças. E habituámo-nos a prescindir de apurar a
verdade porque intimamente achamos que não saber o final da história é
uma coisa normal em Portugal e que este é um país onde as coisas
importantes são "abafadas", como se vivêssemos ainda em ditadura.

E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este
estado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos blogs, dos
computadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real ao
maior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada, e esperando
nunca vir a saber com toda a naturalidade.

Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos às escutas
ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente ao caso da
Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa Benfica,
da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas, de Fátima Felgueiras a
Isaltino Morais, da Braga parques ao grande empresário Bibi, das queixas
tardias de Catalina Pestana às de João Cravinho, há por aí alguém que
acredite que algum destes secretos arquivos e seus possíveis e alegados,
muitos alegados crimes, acabem por ser investigados, julgados e devidamente
punidos?

Vale e Azevedo pagou por todos.

Quem se lembra dos doentes infectados por acidente e negligência de
Leonor Beleza com o vírus da sida?
Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro afogado num
parque aquático?
Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério dos
crimes imputados ao padre Frederico?

Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo padre
Frederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana?
Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça
foi roubada do Instituto de Medicina Legal?

Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios e
enrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma.
No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível,
alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou a condenar
alguém?As últimas notícias dizem que Gerry McCann não seria pai biológico da
criança, contribuindo para a confusão desta investigação em que a Polícia
espalha rumores e indícios que não têm substância.
E a miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu? E todas as
crianças desaparecida antes delas, quem as procurou?
E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos, alguns
menores, onde tanta gente "importante" estava envolvida, o que aconteceu?
Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu.

E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que ela
reconheceu imensa gente "importante", jogadores de futebol, milionários,
políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as destruiu e porquê?

E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios escuros
do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára? O
mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por
causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha.

E aquele médico do Hospital de Santa Maria, suspeito de ter assassinado
doentes por negligência? Exerce medicina?

E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes de
colarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega, é
surda, muda, coxa e marreca.

Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos são
arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao
esquecimento.
Ninguém quer saber a verdade. Ou, pelo menos, tentar saber a verdade.

Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram
as redes e os "senhores importantes" que abusaram, abusam e abusarão de
crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos
sobre meninas ficaram sempre na sombra.

Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças , de
protecções e lavagens , de corporações e famílias , de eminências e
reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade.

Este é o maior fracasso da democracia portuguesa
Clara Ferreira Alves - "Expresso"